quarta-feira, 4 de abril de 2007

Raul Seixas - Metamorfose Ambulante

Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Eu quero dizer
Agora o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator
É chato chegar
A um objetivo num instante
Eu quero viver
Nessa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator
Eu vou desdizer
Aquilo tudo que eu lhe disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha velha velha velha velha
Opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião sobre tudo

Por Antônio Carlos Silva Ferreira

FORTE SÃO MARCELO

No meio do caminho tinha um forte, tinha um forte no meio do caminho”. A pedra que tanto calo deu no sapato do Drummond, em razão das críticas que sofreu, me serve de inspiração para ilustrar o que foi o Forte São Marcelo no meu caminho de conhecer Salvador. Desde os meus tempos de guia de turismo que o Forte São Marcelo permanece ali, encravado na Baía de Todos os Santos, no caminho marítimo entre Salvador e a “intrépida” Ilha de Itaparica, sem que eu pudesse conhecê-lo. Dizia-se que era propriedade da Marinha do Brasil e como instalação militar, ainda que sem uso, não estava aberto à visitação pública.

E eu fui vivendo sem nunca me conformar com a idéia de que conhecia os quatro cantos da cidade, mas não tinha o direito de acariciar com os pés o que Jorge Amado apelidara de o “umbigo da Bahia”. E vez por outra surgia uma notícia de que o forte iria ser reaberto como edificação histórica que é aliando ainda as funções de centro de eventos culturais ou centro de compras e houve até quem falasse em restaurante. Notícias ou boatos a parte, o fato é que ele permanecia lá isolado e a experiência mais próxima de uma visita, que eu tive, foi quando o programa Bahia Náutica apresentou uma reportagem na qual seu apresentador e diretor, Denis Peres, nos levou a percorrer, através da TV, as instalações do forte e chamou atenção para a necessidade de recuperação daquele patrimônio esquecido.

Finalmente, me chega trazendo enorme dose de alegria, a notícia de que o Forte estaria aberto à visitação pública a partir de 12 de novembro. Agora sob os cuidados da ABRAF – Associação Brasileira dos Amigos das Fortificações Militares e Sítios Históricos, o Forte São Marcelo pode ser visitado e, em que pese ainda estar carente de recuperação e implantação de infra-estrutura, já se nota o esforço da ABRAF em valorizar o nosso secular guardião.
Adquirimos, no Centro Náutico, o ingresso no valor de R$ 10, que cobre a travessia de barco e um tour guiado nas dependências do forte. A emoção aumentava quanto mais o forte nos parecia se aproximar do barco até o momento histórico em que nosso grupo transpôs o pórtico que dá acesso ao interior da edificação.


Uma pincelada de história

O Forte São Marcelo foi construído, sob um banco de areia, em 1650, visando principalmente evitar o retorno de invasores holandeses, que já haviam atacado Salvador em 1624 e 1638. Construído pelos engenheiros franceses Felipe Guiton e Pedro Garcin, que se sucederam na empreitada, o forte foi concebido em planta circular para permitir à sua artilharia atirar em qualquer direção. O São Marcelo, que sofreu duas reformas no século XVIII, alcançou na segunda metade daquele século seu maior poder de fogo com 54 peças de bronze e ferro. Com esta bateria o Guardião da Cidade da Bahia intimidava e bombardeava naus inimigas que ameaçavam invadir e saquear a cidade.
Teve importante participação nas lutas pela Independência do Brasil na Bahia, consolidada em 02 de julho de 1823. O bem elaborado folheto distribuído pela ABRAF nos conta ainda que o forte fora o principal relógio público de Salvador, disparando tiros que ressoavam num raio de 80 quilômetros, às 4h da manhã e às 9h da noite.
Explorando o São Marcelo
Visitando as 30 salas do forte pisávamos agora o mesmo chão onde pisaram personagens históricos como Bento Gonçalves, da Revolução Farroupilha, e Cipriano Barata, líder da Revolta dos Alfaiates que ali estiveram presos. Na caminhada com o guia não podíamos deixar de notar que o Forte pede ajuda. Não há mobiliário, nenhuma das suas peças de artilharia está por lá e há até mesmo paredes e piso que foram cobertos de azulejo e cerâmica modernos, desfigurando o monumento. Não há energia elétrica nem instalações sanitárias para uso dos visitantes mas sabe-se que a direção da ABRAF já está providenciando a instalação de um banheiro químico e vislumbra a revitalização do forte com inclusão de atividades temáticas, recolocação dos antigos canhões, uso de uniformes de época e a implantação de lanchonete e lojas de souvenirs. O passeio em si torna-se pobre devido às condições físicas e de ambientação do forte, mas serve ao mesmo tempo como denúncia e alerta para a necessidade de uma ação reparadora.
Ao final dos cerca de 60 minutos de passeio, o guia nos acompanha até o píer de onde o barco nos trará de volta à terra firme em cinco minutos de travessia. Do passeio resta a consciência de que ainda não se fez tarde para resgatarmos o Forte São Marcelo, mas que é preciso a sociedade civil engajar-se na luta pela sua recuperação, inclusive cobrando ação dos poderes públicos. E é claro que ficou também o gostinho de ter finalmente conquistado e incorporado ao nosso acervo de riquezas o antes intocável umbigo da Bahia.

Fortes


Visitar os fortes de Salvador é fazer uma viagem de volta ao passado e conhecer mais sobre a história da capital baiana.
HistóriaA cidade de Salvador nasceu sob o signo da defesa. Os portugueses deram início à implantação de um sistema de defesa que evoluiu até o século XVIII. Uma grande muralha de taipa e barro, suficiente contra as flechas dos índios foi a primeira obra militar portuguesa na Capital.Com o passar dos anos, a muralha foi ampliada e reforçada em pedra e sal, ganhando baluartes na parte do mar e torres encasteladas nas portas voltadas para o São Bento e o Carmo.Logo, as preocupações de defesa se voltaram para o mar, de onde os corsários estrangeiros ameaçavam a cidade. Inútil contra a artilharia da época, a velha muralha deu lugar a um eficiente sistema de defesa em profundidade, com trincheiras, muralhas e fortificações, construídas em lugares estratégicos e armadas de acordo com a evolução da arte da guerra.Alguns projetos nasceram da criatividade dos militares portugueses, outros foram desenhados por engenheiros militares das escolas italianas e francesas, contratados pelo governo colonial. A idéia era sempre aproveitar as condições naturais do terreno para as necessidades de defesa e o exercício da mais bela plasticidade.


Forte de São Marcelo: Inicialmente de madeira, foi todo reconstruído em alvenaria em 1624 para enfrentar os holandeses. Em 1650, ganhou a definitiva forma circular. Só tem acesso de barco.