Nelson Carvalho Marcellino é Sociólogo, Doutor em Educação, Livre docente
Publicou as seguintes obras: Estudos do Lazer - Uma Introdução, Lazer & Empresa - Múltiplos Olhares, Como Tirar os Pés do Chão – Corrida e associativis, Repertorio de Atividades De Recreação e Lazer, Lazer – Formação e Atuação, Introdução as Ciências sociais, Lazer e Humanização, Pedagogia da Animação, Lazer e Esporte – Políticas Públicas, Lúdico, Educação e Educação Física.
Quais as relações existentes entre o lazer, a escola e o processo educativo, e de que forma essas possíveis relações podem ser consideradas tendo em vista a formulação de uma alternativa pedagógica – a pedagogia da animação? Procurar respostas para esta pergunta é o objetivo básico deste estudo. Este trabalho buscar analisar mais detidamente a importância do papel da escola, quando se considera o lazer, quer como instrumento, quer como objeto de educação.
Verificamos nos planos social e cultural, em setores significativos da nossa sociedade, de características urbano-industriais que o lazer vem se firmando como área de atuação de uma série de profissionais ou voluntários, das mais variadas formações, que estabelecem com as clientelas uma relação que pode ser classificada como “relação pedagógica”. Embora haja vários estudo sobre o tema “a função educativa do lazer”, porém essa temática só aborda parcialmente a questão.
O livro foi dividido em quatro capítulos. No primeiro há uma analise das formas de entendimento do lazer e da educação, vendo o enfoque dado em cada um dos temas pelos autores da área especificas e para finalizar como o lazer é visto pelos teóricos da educação. O capitulo dois traz uma análise do duplo aspecto educativo do lazer, procurando verificar as possibilidades e riscos da educação para e pelo lazer. No terceiro há análise da relação lazer e escola, destacando a importância da consideração de como vem se efetivando a ocupação do tempo, em especial na infância. O ultimo capitulo procura-se estabelecer alguns elementos para uma “Pedagogia da animação”, que considere as possíveis relações analisadas no decorrer do estudo, entre o lazer, a escola e o processo educativo.
É no meio urbano que a problemática do lazer se apresenta com maior ênfase. Embora o termo “lazer” no vocabulário comum é relativamente recente e marcada por diferenças acentuadas quanto ao seu significado. O que se ver é a redução do conceito a visões parciais, restritas ao conteúdos de determinadas atividades. Assim o lazer é associado ao esporte, ao ar livre e do conteúdo recreativo. A valorização unilateral do lazer apresenta também uma série de riscos, como as possibilidades de sua utilização como fuga, fonte de alienação e simples consumo. Além disto, a insatisfação no trabalho é um dos principais aspectos da alienação que se verifica na civilização técnica. Essa insatisfação no trabalho pode ser consciente ou não e se traduz numa ação permanente e múltipla sobre a vida fora do trabalho, levando os indivíduos para atividades laterais. Sendo assim, o lazer em si não é capaz de salvar o trabalho, mas fracassa juntamente com ele, e só poderá ser significativo para a maioria dos homens se o trabalho o for, de maneira que as próprias qualidades por nós procuradas no lazer terão maior probabilidade de se tornaram realidade se a cão política e social travar a batalha, em duas frentes, do trabalho-e-lazer. O lazer também pode ser alienado como o trabalho. Deste modo, o lúdico seria a negação dessa alienação do trabalho e do lazer, pois é uma criação. O que percebemos são duas grandes linhas de estudo sobre o conceito de lazer. No primeiro o lazer é visto como um estilo de vida, portanto independente de um tempo determinado, liberado do trabalho, mas de outras obrigações. No segundo é visto como “atitude” que será caracterizado pelo tipo de relação verificada entre o sujeito e a experiência vivida. O autor considera o lazer como cultura, vivenciada no tempo disponível, e de caráter “desinteressado”, não se busca outra recompensa da satisfação provocada pela situação.
Muito mais que definir, importa examinar as formas de considerar o lazer, em termos de valores a ele atribuídos uma vez que há uma ligação entre tais abordagens e as relações estabelecidas com a educação. Por elas não se encontrarem isoladas no pensamento dos vários teóricos, sendo aqui especificadas unicamente para fins de análise. Deve-se ressaltar que o lazer é apresentado como fenômeno intrinsecamente problemático e ambíguo. Entre as várias abordagens, pode-se distinguir uma romântica, marcada pela ênfase nos valores da sociedade tradicional e pela nostalgia do passado. Já a abordagem moralista é motivada justamente pelo caráter de ambigüidade do lazer. Na abordagem compensatória o lazer é um instrumento que compensaria a insatisfação e a alienação do trabalho. Por fim a utilitarista onde há a redução do lazer à função de recuperação da força de trabalho, ou sua utilização como instrumento de desenvolvimento. Em todas essas abordagens, a romântica, moralista, compensatória e a utilitarista pode-se depreender uma visão “funcionalista” do lazer que busca a paz social, a manutenção da “ordem”, instrumentalizando o lazer como fator de ajuda. Além disto, ajuda a suportar a disciplina e as imposições obrigatórias da vida social, pela ocupação do tempo livre em atividades equilibradas, socialmente aceitas e moralmente corretas. Desta forma, canalizam-se as tensões e as descargas de agressividade, com isso reduzem-se as transgressões de ordem social, funcionando como válvula de segurança da sociedade. Contrapõe-se a essa visão do lazer como instrumento de dominação, aquela que o entende como um fenômeno gerado historicamente e do qual emergem valores questionadores da sociedade como um todo, e sobre o qual são exercidas influencias da estrutura social vigente. Assim, a admissão da importância do lazer na vida moderna significa considera-lo como um tempo privilegiado para a vivencia de valores que contribuam para mudanças de ordem moral e cultural. Desta forma o lazer seria uma construção ideológica, sob o qual o antilazer se aproveita para penetrar mais eficazmente no modo de vida das pessoas com o objetivo de mantê-las perfeitamente integradas na sociedade. Na relação entre a escola e a sociedade surgem algumas divergências observando-se duas grandes tendências: a primeira, encara a educação como instrumento de reprodução, variando a ênfase na exclusividade da educação como reprodutora ou como um dos agentes de reprodução. Já a segunda, situa a educação no adestramento do sistema capitalista. As duas tendências são críticas a educação tal como ela se apresenta. No entanto, a análise das duas tendências situa-se no contexto capitalista e não significa, de modo algum, um engajamento ás teses de desescolarização. Essa crítica á escola capitalista não significa a negação do valor da educação, enquanto instrumento de mudança, ou como querem alguns, de libertação. Crítica-se a escola a serviço do sistema de produção capitalista e toda a orientação do pensamento liberal típica das classes dominantes. Tratando-se do lazer como veiculo de educação, é necessário considerar suas potencialidades para o desenvolvimento pessoal, social e política uma vez que favorecerá estudos para melhoria e aproveitamento de um importante campo da educação. Torna-se ainda mais necessário um processo educativo de incentivo à imaginação criadora, ao espírito crítico, ou seja, uma educação para o lazer, que procure não criar necessidades, mas satisfazer necessidades individuais e sociais. Sendo assim, só tem sentido se falar em aspectos educativos do lazer, se esse for considerado como um dos possíveis canais de atuação no plano cultural, tendo em vista contribuir para uma nova ordem moral e intelectual, favorecedora de mudança no plano social. Desse modo, a educação pelo lazer acontece numa perspectiva de “educação permanente”, que buscaria o desenvolvimento cultural, através da animação sócio-cultural. Entretanto esta ação educativa consciente, para o bom uso do lazer, deverão participar a família, a igreja, os órgãos públicos e privados, enfim, toda a comunidade em esforço conjugado. Vale ressaltar que ao defender a educação para o lazer é necessário que se esteja consciente de seus riscos. É necessário observar, ainda, que não se pode efetuar a separação entre a educação para o lazer e a educação
Aqui a animação engloba os sentidos de vida, de movimento e de alegria. Portanto, uma pedagogia da animação estar ligada a criação de ânimo, a provocação de estímulos. Na perspectiva da pedagogia da animação à escola funcionaria como um centro cultural popular. Sua tarefa educativa seria efetuada, em termos de conteúdos, fornecendo o instrumento necessário no sentido de auxiliar a superação do senso comum. Em termos de forma, não ignorando as diferenças na apropriação do saber entre alunos e professores. Em termos de abrangência, se estenderia a toda comunidade local, através da participação comunitária. Em termos de espaço, ultrapassaria os limites dos muros dos prédios escolares, estendendo-se a toda comunidade. Em termos de elementos humanos, um grupo de animadores culturais, que aliem competência técnica a um compromisso político de transformação. Em termos de recursos materiais, procurar recursos materiais alternativos e exercer pressões para obtenção de novos recursos, sem deixar que o poder público deixe de lado o lazer e a educação. Aos elementos que foram demonstrados não procura mostrar “caminho verdadeiros”, mas busca contribuir para soluções alternativas de mudança da situação, no campo especifico do plano cultural. Assim, não é possível desconhecer as relações existentes entre lazer, a escola e o processo educativo. A teoria do lazer, que o estende dentro de uma concepção “funcionalista”, em suas várias abordagens, não desconhece essa relação, mas privilegia o primeiro elemento, minimizando o papel da escola no processo educativo, baseando seus argumentos no “ fracasso escolar”. Já a teoria da educação privilegia o segundo elemento, considerando-o apenas a perspectiva da classe dominante. Assim, há uma sedimentação das concepções funcionalistas do uso do tempo do lazer. A necessidade de uma nova pedagogia embasadora de uma nova prática educativa e realista através dessa própria prática, considerando as possibilidades do lazer, como canal possível de atuação no plano cultural, de modo integrado com a escola, no sentido de apoio para a elevação do senso comum, em um aspecto de transformação da realidade social, sempre em conexão como outras esferas de atuação política. Uma pedagogia que analise as necessidades de trabalhar para a mudança do futuro, através da ação de mudança, sem abrir mão do prazer restrito de que se dispõe, mas, pelo contrario, que essa vivencia seja, em si mesma, prazerosa.
O autor utiliza o método indutivo, recorrendo aos procedimentos analíticos e interpretativos fornecidos pela Sociologia, filosofia e Antropologia cultural. Trata-se de uma obra de cuidadoso rigor metodológico, que explora os problemas que se propõe a estudar, sem desvios ou distorções. É uma obra original e valiosa tendo uma ampla riqueza de informações. Apresentada num estilo simples e claro, os resultados e a analise destes permitem uma extrapolação, logicamente se respeitadas as peculiaridades consideradas pelo autor.
Esta obra apresenta especial interesse para estudantes de Pedagogia e Educação física, pois apresenta uma reflexão filosófico-educacional sobre o lazer como elemento pedagógico de significação.pode ser utilizada tanto a nível de graduação como de pós-graduação, pois apresenta linguagem simples.